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O PRECONCEITO CROMÁTICO

Teresa Sá

Ser negro é levar na pele o
Estigma social
Ser negro no imaginário social
É ser marginal
E se não é
vai ser
Nasce com esse potencial

A negritude desenvolve a corrida
Tem de correr todo o dia
Atrás da subsistência
Atrás do trabalho
Atrás do mérito
Atrás do reconhecimento
Tem de correr todo o dia
Fugindo de olhos punitivos da sua cor
Olhos (des)humanos
Olhos mecânicos
Olhos reais
Olhos virtuais
Todos se unem para fulminar uns olhos
Ainda que não sejam pretos
Desde que morem num corpo negro

Falar e não ser negro é bem fácil
Eu sei
Mas tenho em mim a experiência de ser de cor
Outra que não preta
Que tanto eu desejava ser
Porque sentia na pele a perseguição vampiresca de todos
Sempre a brincar, claro
Que tudo faziam para eu mudar de cor e não era já preciso nada
Só pensar neles e nelas
Nesses seres mesquinhos que acrescentavam tortura aos meus já torturantes dias
E pedia sempre, todos os dias, ao tal senhor meu Pai, que
Ao menos, fizesse o milagre de eu mudar de cor
Ah se eu pudesse ser negra…
Sonho secreto acalentado pela ruborização que fazia de mim isca do gozo das Bebés, das Lokas e das Inhas ‘filles’ de papa…
O milagre não se deu
Mas deu-se o milagre de eu ter sentido sobre mim o ódio ao vermelho

Sobrevivi
Fiz um pacto comigo mesma: lutarás contra o preconceito cromático.
E aqui estou.
Na luta.
Pela liberdade de ser. Pela alegria de amar. Pela dignidade de existir.

Não há cores. Há pessoas.
Cada um veste a que quer.
Cada um é da que nasceu.
Todos pessoas.
Viva a policromia humana.

Sem preconceitos cromáticos.
Ou outros.

Teresa Sá